quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A primeira cartada



Os últimos dias foram bem corridos e cansativos. As vésperas de enviar nosso projeto para o edital do CCBB, nós ainda não tínhamos tido tempo nem para decidir o nome da companhia. E que difícil foi escolher um nome! Depois de horas de discussão, dezenas de sugestões - e um bom tanto de riso, é verdade - nós chegamos ao nome: Cia. Façamos Assim!

Nós já tínhamos os primeiros profissionais, alguns currículos, a base dos textos, a base do cronograma, a base do orçamento. Mas era tudo tão... base. Então tivemos que correr. Eu terminei de elaborar os textos, que depois de escritos me deram um certo orgulho. Com algumas pesquisas e alguns nomes mais técnicos eu fui elaborando o que queríamos dizer, o que era preciso ser passado. Eu tinha pesadelos com caracteres. Eu sonhava com erros de português monstruosos, e acabava acordando nervosa comigo mesma por erros que eu nem tinha cometido ainda.

As noites foram se acumulando, o sono também, a ansiedade, e os dias foram passando cada vez mais rápidos! Alguns contratempos super imprevistos aconteceram. Erros, equívocos, mal entendidos... Mas o projeto finalmente foi ganhando formato, e foi deixando Macenda cada vez mais concreta.

Noites de discussão, explicação, cálculos, pesquisa, tudo isso é só o começo. E nossa primeira cartada já está na mesa e fica agora a espera pelo resultado. Nosso trabalho não vai parar, muito pelo contrário, vai é piorar. Mas tudo bem. Se a cada final de etapa, cada passo dado, permanecer esse orgulho e esse gosto por continuar, a Cia. Façamos Assim terá uma bela história. Suada e batalhada, mas bela!

E que venha nossos próximos passos, as seleções, as escolhas, os ensaios. Estamos prontos para esse frio na barriga, para levantar Macenda e fazer desse projeto um trabalho realizador!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A nova descoberta que define Macenda


Escrevendo os textos que definem o que é Macenda e qual é a estética utilizada para os projetos, nos deparamos com definições muito pobres, que ocupavam espaço demais para explicar o que queríamos dizer, - espaço muito precioso - e por mais que os esforços e cuidados fossem muitos, sempre acabava soando vago demais, amador demais. Nós sempre soubemos o que queremos, mas como tirar isso de nós e passar para as outras pessoas e mostrar que sabemos do que estamos falando?

Foi então que o Arthur me falou sobre uma nova estética que vem sendo estudada e formulada, apesar de já existir a alguns anos. O Realismo Fantástico! E como produtora dessa companhia, gostaria e dividir com vocês a definição da estética de Macenda.



Realismo Fantástico
Ou Realismo Mágico ou Realismo Maravilhoso
O realismo mágico se desenvolveu fortemente nas décadas de 1960 e 1970, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu também como forma de reação, através da palavra, contra os regimes ditatoriais deste período.
Deu origem a diversos romances e contos e as principais características que o estilo emprega são aspectos e fatos mágicos surreais vistos pelos personagens como algo normal e convencional que faz parte do mundo; presença de intuição e previsões pelos personagens como se isso fizesse parte dos sentidos humanos normais; elementos mágicos que aparecem em meio à história e não tem necessariamente uma explicação plausível; noção de tempo distorcida o presente pode e repetir inúmeras vezes; estética que mistura a fantasia com e real; o cotidiano com elementos fantásticos que no contexto fazem parte da história.
Este conceito pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse em mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Não é uma expressão literária mágica: sua finalidade é a de melhor expressar as emoções a partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à realidade. Uma das obras mais representativas deste estilo é “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez.
No Brasil, destacam-se os nomes de Murilo Rubião e José J. Veiga.

Os seguintes aspectos estão presentes em muitos romances e contos do realismo mágico, mas não necessariamente estão todos presentes em todas as obras desta escola. Do mesmo modo, obras pertencentes a outras escolas podem apresentar algumas características dentre aquelas aqui listadas:
·       Conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos percebidos como parte da "normalidade" pelos personagens;
·       Elementos mágicos algumas vezes intuitivos, mas nunca explicados;
·       Presença do sensorial como parte da percepção da realidade;
·       O tempo é percebido como cíclico, como não linear, seguindo tradições dissociadas da racionalidade moderna;
·       O tempo é distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado;
·       Transformação do comum e do cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas;
·       Preocupação estilística, partícipe de uma visão estética da vida que não exclui a experiência do real.

Espaço

·       Mínimo e vital;
·       Dinamiza e ativa o conteúdo das ações;
·       Atmosfera interiorizada—sempre hoje;
·       Também possibilita observar as figuras gramaticais dessa época.

Personagens

·      Os personagens presentes nas obras desta corrente podem ter viagens, mas não de tipo físico – eles alternam de espaço e tempo entre seus estados de vigília e de sonho.

sábado, 6 de outubro de 2012

Cesar e a estrela


Diante da morte todas as resoluções se dissolvem. As ações tornam-se inúteis, as paixões cessam. Só o amor permanece.

Naquele dia senti minha alma prestes a se dissolver, repelindo o corpo agora estranho. Estou morto, o que talvez torne a minha história um pouco mais interessante.

Na minha infância eu era o prelúdio do homem que acabei por me tornar, sempre fui uma criança estranha fazendo coisas estranhas. Eu adorava ficar deitado no chão olhando as estrelas no céu.  Minha mãe me contava que as estrelas tinham o poder de realizar milagres: Antes de morrer elas completam sua última jornada em direção ao infinito, é o que conhecemos por estrela cadente; nesse instante único, elas realizam qualquer desejo de quem as vê passando, seja bom ou ruim. Eu passava horas e horas observando as constelações, esperando a morte de uma única estrela. Apenas uma já seria o bastante. Uma única estrela pela vida que me foi tirada. A vida da minha mãe.

Eu sonhava em revê-la. Meu pai nunca mais foi o mesmo depois que ela morreu. Eu só queria trazê-la de volta, para que ele pudesse ser feliz novamente. Era o que eu mais queria. Todas as noites eu desejava a morte das estrelas como quem deseja que as árvores floresçam no verão. Passava meus dias a vigiá-las. Nem bem tinha completado dez anos e acreditava que já tinha encontrado todas, não só as constelações, mas todas as estrelas. Eu havia nomeado cada uma e, de todas, uma em especial chamava a minha atenção. Ela ficava isolada das outras, não fazia parte de nenhuma constelação conhecida; parecia tão solitária, assim como eu. Passei então a observá-la mais do que as outras. Era como se ela também me observasse. Passei a sentir que ela me acompanhava por todos os lugares, que me protegia, que velava meu sono inquieto; podia ser só uma ilusão, mas eu realmente acreditava.

Enquanto os outros garotos se apaixonavam pela menina mais bonita, eu me apaixonava por uma estrela no céu. Eu cresci com ela. Os anos foram passando e eu a amava cada vez mais. Até que um dia, entre um minuto e outro, percebi que ela já não brilhava como antes, estava diferente, quase apagada. Eu sabia que havia algo errado: ela estava morrendo. Alguns segundos depois ela passou riscando o céu diante de mim. Foi como se ela estivesse apenas me esperando pra morrer, aguardando somente a mim para finalmente cumprir o seu destino e realizar o milagre que eu tanto desejei: trazer a minha mãe de volta a vida. Esperei por aquele momento a minha vida inteira. Então naquele instante eu desejei com todas as minhas forças que ela não morresse. Que viesse ao meu encontro, que fosse minha. De alguma forma meu desejo foi atendido e eu a vi caindo do céu. Saí desesperado a procurá-la, eu tinha que encontrá-la. A minha felicidade dependia disso.




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Projeto organizacional e devaneios


Vamos a mais um pequeno pedaço que é esse bolo chamado produção. Macenda não sai da minha cabeça, parece que cada momento do meu dia passo revisando o que já foi escrito e se as decisões tomadas são mesmo as corretas. É complicado pois uma pequena besteira como, uma casa decimal, pode mudar completamente o rumo das coisas.

Na última semana o esqueleto do projeto organizacional interno foi terminado. Algumas lacunas já estavam sendo preenchidas, como por exemplo a história da companhia, cronograma e orçamento. Também consegui revisar o atual edital e já montar o esqueleto para tal. Neste, nossa organização não está com o mesmo avanço e quase todas as lacunas estão preenchidas apenas com ideias sem nada muito concreto.

A cada reunião resolvemos pequenas coisas que, no momento, são monstruosas. Temos que fechar, por exemplo, o nome da companhia. Alguns nomes chamam mais atenção que outros, alguns são de brincadeira, alguns soam estranhos, outros amadores. É como dar nome para um filho. Parece besteira, mas leva-se algum tempo. Também estamos em fase de pesquisar alguns nomes que desejamos que trabalhem conosco, alguns profissionais que se encaixem em nossos conceitos e em nossos ideais. O que também não é nada fácil pois serão escolhidos a dedo.

Eu e o Arthur acabamos de passar em um curso de poucos dias que falará sobre a dramaturgia que está surgindo e novas formas de produção. O que cai como uma luva para esses tempos. O Felipe precisa concluir sua formatura e entregar seu TCC. Não paramos de estudar e parece que tudo que lemos, conversamos, vemos, escutamos, pode servir em algum momento para Macenda. O problema é que com o tempo para os estudos, precisamos diminuir mais um pouco o tempo para nossos encontros e nossas tomadas de decisões. Tudo precisa ser mais rápido e objetivo.

Neste último fim de semana fiz uma descoberta que pode mudar muita coisa. Na primeira vez que montei nosso orçamento, houve um problema e estávamos sem energia. Não tínhamos computador e nossos celulares estavam sem bateria. Eu calculei tudo com um lápis, um pequeno bloquinho de rascunho e a luz de uma vela que acabou queimando a mesa. Nas reuniões seguintes esse orçamento foi discutido e reformulado, mas ninguém reparou que eu cometi um engano. No meu calculo mental eu dividi um valor por 1000, ao invés de dividir por 100, o que nos deu um valor muito inferior ao verdadeiro, sendo que uma casa decimal foi andada a mais. Como estou passando aos poucos nossas decisões para o projeto organizacional, refiz as contas do orçamento por segurança, e eis que acho esse erro. Essa casa decimal reduz nosso orçamento final em até 50%. Excelente notícia, não é?? Para Macenda sim, para minha autoconfiança... não.

Parece que quanto mais decidimos, mais decisões precisam ser tomadas. Quanto mais fazemos, mais precisa ser feito. Isso dá uma sensação de... estar vivo. Macenda está ganhando uma alma e não vemos a hora que ela ganhe um corpo e possa correr por aí, dando orgulho para esses pais corujas!


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Nossa fé deu nó


Quando pensamos muito em uma história é normal que ela dê voltas, mude de rumo. No caso de Macenda isso tem acontecido a toda hora. As coisas mudam a cada dia, diria a cada instante. Acho que isso é algo natural, assim podemos testar a força de algumas ideias. Neste momento, elas podem tanto morrer como sobreviver aos testes, provando que são fortes o bastante, que harmonizam com os outros conceitos.

Macenda está se mostrando um gigantesco quebra-cabeça, em que a dificuldade está em encaixar cada peça sem bagunçar as outras; o que freqüentemente acontece. Às vezes, uma simples ideia acaba mudando um conceito que antes parecia imutável, definitivo. Acho saudável não me apegar a nada neste momento, mas ao mesmo tempo um núcleo para a história se faz necessário, um tema, a ideia que pretendemos passar, algo como uma alma que será o cerne da peça.

Depois de algumas dúvidas e hesitações, chego a uma confirmação: A importância da fé em si mesmo. É disso que fala essa tal peça chamada Macenda.



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Criando a mitologia e buscando referências


Criar um mundo conciso para Macenda está sendo uma grande empreitada. Uma mitologia própria está sendo criada. Mitologias servem mais para o autor entender como funcionar aquele mundo, que não é igual ao nosso. Inclusive em que aquelas personagens acreditam.

Escrever Macenda está sendo um aprendizado incrível. Não tenho nenhum método definitivo, nem mesmo uma ordem para escrever. Claro que há o lado negativo disso, principalmente na questão do tempo, mas há também um processo de aprendizado intenso. Tenho testado muita coisa, e tendo essa liberdade acabo descobrindo coisas que não seriam descobertas pela maneira convencional, seja ela qual for. Há vários pontos da história em que não sei qual é o melhor caminho para desenvolvê-la, mas consigo descobrir o que não dá certo e isso já é um avanço e tanto.

Comecei a escrever uma espécie de “argumento resumido”,  com a intenção de só contar os principais acontecimentos da história, mas já está enorme e tão cheio de detalhes, que acho que não posso mais usar a palavra “resumido”. O detalhe é que ainda não cheguei no início da peça. Precisei criar toda uma história anterior ao momento da peça.

Nesses últimos dias, tenho buscado incessantemente algumas referencias, por sentir certas dificuldades na criação da mitologia da peça. Estrou especialmente interessado em histórias de anjos como os filmes: “Anjos Rebeldes”, “Constantine” e “Legião”. Procuro também por histórias que tratem do lúdico, mas sem sair muito da realidade, como elementos lúdicos em um mundo mais próximo do real, que é o que penso de Macenda. Resolvi ler e assistir a adaptação cinematográfica de “Stardust”- do excelente Neil Gaiman, já que haviam me dito que tinha muito em comum com Macenda e muitos vão pensar que foi daí que surgiu a ideia para Macenda; só que não! A ideia inicial veio de uma música do Teatro Mágico, mas isso é assunto para um futuro texto. A questão é que tinha, e talvez ainda tenha uma certo receio de me influenciar, já que são premissas parecidas, mas acho que o melhor a fazer é justamente conhecer essa história, para depois não culpar o inconsciente coletivo. E querendo ou não sou mega fã do Neil Gaiman, então nada mais prazeroso do que le-lo e vê se aprendo um pouquinho como contar uma boa história.